segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Quem são os "Psicopatas do Cotidiano" ? Você pode estar entre eles

De médico e louco, cada um tem um pouco.... 


 O ser humano é fascinado por histórias de psicopatas. Os vilões manipuladores que aparecem em manchetes de jornais e protagonizam filmes de terror prendem a atenção com suas atitudes perversas. O que muitos não sabem, contudo, é que além dos casos mais graves, existe um tipo de psicopata que pode até não cometer crimes absurdos, mas que diariamente afeta a vida de quem está ao seu redor. 

 A psiquiatra carioca Katia Mecler, de 50 anos, discorre sobre esse tipo de personalidade em seu recém-lançado livro Psicopatas do Cotidiano: como reconhecer, como conviver, como se proteger, da editora Casa da Palavra. A obra trata de pessoas que impingem um sofrimento diário a quem está próximo. Elas podem estar no ambiente de trabalho, no trânsito, no condomínio e dentro da própria família. Disse Katia ao site de VEJA, em entrevista exclusiva sobre o livro: "Todos nós podemos ser em algum momento da vida perversos, mentirosos e frios. O problema é quando isso se torna frequente - deflagra-se uma patologia". 

Como a senhora define os "psicopatas do cotidiano", termo que dá nome ao seu livro? São pessoas que desde a adolescência ou início da vida adulta desenvolveram um transtorno de personalidade e comportamento. Tais problemas têm como característica o excesso de alguns traços comportamentais, como por exemplo mentira, manipulação, egocentrismo, frieza, desconfiança e insegurança. Ao todo, são 25 traços estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria. A maneira como pensamos, nos comportamos e sentimos naturalmente não é estática. Sempre incluímos em cada ato o que há de bom e de ruim em nós. Qualquer um pode, em algum momento, ser malvado, agressivo, egoísta, arrogante, hostil, manipulador, descontrolado, explosivo... O problema é quando essas características se tornam repetitivas e inflexíveis em vários momentos da vida, chegando ao ponto de causar sofrimento ou perturbação a si mesmo e, sobretudo, aos outros. É aí que surge a patologia.

A senhora poderia dar alguns exemplos de psicopatas do cotidiano? Eles não são como os psicopatas que vemos em filmes com serial killers e não necessariamente aparecem em manchetes de jornais porque cometeram um crime. Essas pessoas fazem parte da nossa rotina e nem sabemos que elas têm um transtorno. É o chefe que desqualifica o funcionário publicamente, o namorado excessivamente grudento, o parente "esquisitão" que vive enfurnado em casa e evitar contato com outros, o vizinho que está sempre buscando motivos pra criar confusão no condomínio, os pais que frequentemente fazem chantagem emocional com os filhos para que eles tomem atitudes contrárias às suas vontades, os motoristas que perdem a cabeça no trânsito constantemente... 

Eles têm consciência de que sofrem de um transtorno? Em geral, não. Eles podem se sentir diferentes, mas apenas porque acreditam que são superiores. E eles não perdem o juízo da realidade, tampouco seus sintomas aparecem na forma de surtos, com delírios e alucinações, como em casos de esquizofrenia e transtorno bipolar. A pessoa é daquele jeito e age sempre da mesma maneira em determinadas situações. 

O que esses psicopatas têm em comum com aqueles que cometem crimes? Os psicopatas que cometem crimes também têm um transtorno de personalidade, que pertence ao grupo dos antissociais. Mas em um grau ainda mais severo. Eles são frios, oportunistas, impiedosos, manipuladores e mentirosos. É comum utilizarem o outro como trampolim para satisfazer os desejos. Eles carecem de culpa e empatia e não se importam com as regras, convenções nem com o restante da humanidade. Muito se fala sobre esses "vilões", mas poucos lembram que podemos conviver diariamente com o que chamo de "psicopatas do cotidiano". 

Já se nasce psicopata? Não, ninguém nasce com personalidade definida. Ela é uma combinação entre temperamento e caráter. O temperamento é herdado geneticamente e regulado biologicamente. Já o caráter está ligado à relação que existe entre o temperamento e tudo o que vivenciamos e aprendemos com o mundo exterior, o ambiente. Nascemos com as sementes do bem e do mal, mas como elas vão germinar, crescer e dar frutos depende de uma série de fatores que irrigarão a nossa vida, como a educação que recebemos, frustrações que vivenciamos e traumas severos. É possível notar o temperamento de uma criança, mas somente depois que ele for combinado ao caráter que será formado. É isso que, no futuro, forma um psicopata. 

Quem sofre mais? O próprio psicopata do cotidiano ou as pessoas que eles fazem sofrer? A maioria dos psicopatas do cotidiano não percebe o constrangimento, o mal-estar e o sofrimento que espalham ao seu redor. Então, em tese, pode-se dizer que as pessoas ao redor do psicopata do cotidiano sofrem mais do que ele. Porém, é preciso destacar que alguns traços patológicos de personalidade também acarretam muito sofrimento ao indivíduo.

Eles conseguem amar? Se houver amor, será por si próprio. Os psicopatas tendem a ser narcisistas, eles só reconhecem qualidades em si mesmos e acreditam que são pessoas muito especiais. É claro que não há nada errado em ter autoconfiança e boa autoestima, dois elementos que, quando equilibrados, trazem sociabilidade e segurança. O problema é que pessoas com traços de egocentrismo e grandiosidade levam essas características ao extremo e acreditem que suas contribuições são muito mais valiosas do que na realidade.

Há algum tratamento recomendado? Em geral, os psicopatas do cotidiano não se responsabilizam pelos próprios atos. Eles estão sempre culpando os outros e costumam injetar sentimentos de culpa no outro. Acham que o problema está fora, que o mundo os atrapalha. Para eles, quando algo não vai bem em suas vidas, o problema é dos que os cercam. Em relação ao tratamento, o mais utilizado é a psicoterapia cognitiva, técnica que leva o indivíduo a reconhecer o que ele faz e como suas atitudes inflexíveis causam prejuízos aos outros. 

Autora: Psiquiatra Katia Mecler 
Fonte: JusBrasil 
Publicado por Paulo Abreu 


 “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo.” 
(Ruy Barbosa)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O advogado defende qualquer um por dinheiro: realidade ou mito?







A acusação mais comum e leviana que os advogados criminalistas são vítimas da sociedade em geral é esta: advogado criminalista não tem moral para falar sobre crimes e criminosos, afinal ele defende ou acusa qualquer um por dinheiro. 

Por Deus, antes de ser um repetidor de informações, pense nos seus conhecidos, procure na sua lista de amigos das redes sociais qual deles é advogado criminalista e pergunte como foi e como é sua carreira.

Advogados criminalistas cobram pelo seu trabalho? Evidentemente que sim, são profissionais e sendo bons, os clientes deverão pagar um preço considerável pelo seu trabalho, como qualquer prestação de serviços, mas cuidado ao generalizar em comentários sobre este tema, pois os advogados criminalistas tiveram um início de carreira, precisam se aperfeiçoar e isso tem um custo cada vez mais elevado. 

Porém, os advogados criminalistas passaram por vários processos ao longo da carreira sem receber nada ou muito pouco. Alguns dirão, mais uma conversa de advogado, mas repito, converse com um criminalista e verá o que ele tem a dizer sobre diversos casos que atuou como defensor dativo[1], sendo que muitos deles nomeados na última hora. 

Advogados criminalistas são constantemente chamados pelos amigos dos amigos do fulano de tal, que teve um probleminha, mas que precisa muito da ajuda de um excelente defensor, porém este sujeito normalmente está com a situação financeira complicada, e o advogado seja pela questão pessoal, ou pela sua consciência humanitária não vai fugir da luta, estará lado a lado com o indivíduo nesta hora difícil. 

Também não é incomum, o advogado criminalista sofrer críticas de membros do Ministério Público e do Poder Judiciário, que por dinheiro, acusa tão bem quanto um Promotor de Justiça, e que suas teses defensivas são violadas na inversão das atuações. Interessante contextualizar que quando estes ocupantes de cargos públicos tão importantes, ao se aposentarem, normalmente formam uma banca de advogados, e geralmente são muito bem recebidos pelos advogados criminalistas. 

Uma carreira bem planejada começa a ser definida ainda na universidade, passa por anos de estudo, de atualizações. O Exame da Ordem dos Advogados do Brasil apresenta um grau de dificuldade considerável. Um jovem advogado criminalista se não possuir um familiar que já tem experiência na área ou se não compor uma banca de criminalistas já atuante no mercado, terá muitas dificuldades de alavancar seu nome, e cobrar valores nos mesmos moldes que os renomados. 

Aos mais céticos, antes de criticarem os advogados criminalistas, façam uma visita nos fóruns, entrem na sala de audiência de uma vara criminal e observe, que se um advogado criminalista por acaso chegar antes da sua solenidade e a audiência que vai acontecer não for a sua, poderá ser chamado a colaborar com Poder Judiciário e realizar a audiência anterior nomeado na hora, sem tempo até para ler o processo, isso pouca gente sabe, e os que sabem já estão tão acostumados com essa realidade nacional que acham até normal. 

Por essas razões, os advogados criminalistas jamais deixam de acreditar nas causas sociais, nem pela falta de recursos de clientes mais necessitados negam um atendimento, algumas vezes passam o contato de outro colega que está iniciando a carreira e quer mostrar serviço. O ciclo da carreira é normalmente assim, os mais experientes conversam alegremente com os colegas mais novos e passam dicas valiosas nestas sessões sem preço algum, pela parceria e pela alegria de estar formando um profissional que depois de um tempo fará o mesmo com os mais novatos. 


[1] Defensor dativo é aquele advogado que é chamado normalmente por um juiz para atuar num processo onde naquele momento não há defensor público suficiente para a demanda. 

Por Anderson Figueira da Roza 
Fonte: Canal Ciências Criminais

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Quem chora pelo menino sírio Aylan Kurdi?







O mundo amanheceu chocado com a imagem do pequeno menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, encontrado morto em uma praia da Turquia. A imagem se tornou uma das mais representativas da dramática crise migratória na Europa, ocasionada pelos conflitos armados no Oriente Médio, principalmente na Síria. 

 Nilüfer Demir, a fotógrafa que registrou as imagens do corpo de Aylan na praia da Turquia, disse: “a única coisa que eu poderia fazer era tornar seu clamor ouvido. Naquele momento, eu pensei que poderia fazer isso ao acionar minha câmera e fazer sua foto”. E foi o que aconteceu. O mundo voltou-se para o pequeno Aylan Kurdi. 

 A cada instante que as ondas da praia tocavam a face do menino Aylan, firmada na areia, era como se o mundo fosse castigado pela sua omissão, condenado por sua iniquidade. A imagem parece muito bem resumir o quanto distante estamos do respeito e da preservação da dignidade da pessoa humana. 

A imagem do pequeno menino sírio conduz a Organização das Nações Unidas, seu Conselho de Segurança e sua comunidade de Países, inclusive as grandes potências mundiais, para o período paleolítico, para um mundo inferior nos subterrâneos da Terra de que nos fala a mitologia grega. 

A desigualdade social e às injustiças do sistema que dominam o mundo triunfam. Em 5.400 anos de história da humanidade, desde a invenção da escrita, ainda não aprendemos a viver no planeta, não aprendemos a amar e conviver em fraternidade com o nosso semelhante. Tudo que sabemos fazer até o presente é acumular riquezas e bens materiais, consumindo todos os recursos naturais da Terra, sempre deixando para trás um rastro de poluição e destruição generalizadas. 

O pequeno Aylan Kurdi nos fez ter a sincera e última impressão de que tratados e convenções internacionais não passam de um nada, que as fronteiras entre as Nações são meras trincheiras delimitadoras de territórios de um pequeno grupo de senhores que entendem que são os donos do planeta. Afinal, Aylan não poderia estar na Síria, sua terra natal, nem na Turquia, nem na Europa, nem em lugar algum. Nos termos do acordado pelos poucos senhores do planeta, o pequeno Aylan Kurdi deveria mesmo é estar morto.

E sem dar um segundo sequer de chance à paz no mundo caminha a humanidade. Embalada para nossa destruição final. Quem diria, mas que ironia, a forma de vida dominante no planeta ser a autora de seu próprio apocalipse e de todas as outras espécies. 

Nos encontraremos, pobre Aylan Kurdi. Tenho certeza que, onde estiver, está em paz, irradiando e contaminando os bons e justos com sua alegria própria de uma pequena e inocente criança.


 Carlos Eduardo Rios do Amaral é Defensor Público da Infância e da Juventude no Estado do Espírito Santo

Fonte: JusBrasil