segunda-feira, 10 de junho de 2013

ESTÓRIA DE TRANCOSO

 
 
 
FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
 

É preciso mais fé; Quando a dor bater no peito; Vá à luta, vá a pè!
Bernardo Trancoso

 
 
                             Não faz muito tempo que os nossos pais contavam estória de trancoso para os filhos. Ficávamos de boa aberta ouvindo todos os detalhes de cada estória. Uma vez eles contaram que um pobre casal jovem, casados recentemente, era tão pobre que vivia exclusivamente de favores em um sitio do interior do nordeste brasileiro. De modo que um determinado dia o jovem esposo fez uma proposta a sua esposa, afirmando que ia sair de casa, iria viajar para um lugar bem longe, ia tentar arranjar um emprego e trabalhar em qualquer tipo de serviço até ter reais condições para regressar e poder oferecer uma vida social e familiar condigna e confortável e sua mulher. E continuou dizendo que não sabia quanto tempo ia ficar longe de seu amor e de sua casa, só pedia uma coisa, que a esposa o esperasse e enquanto ele estivesse viajando, fora de casa que ela seja fiel a ele, inclusive ele prometeu também que iria ser fiel a ela enquanto estivesse fora de casa.
 
                               Chegou o dia da partida, o jovem esposo cumpriu o prometido e foi embora, saiu de casa a procura de um trabalho. Saiu estradas afora a pé e andou muitos e muitos dias, de modo que conseguiu chegar em uma fazenda que precisava de contratar um empregado para ajudar nos trabalhos corriqueiros da propriedade rural. E o jovem esposo apresentou-se ao fazendeiro e disse que estava precisando trabalhar e o mesmo foi admitido. Em seguida pediu ao patrão para fazer um “trato” e ou “pacto”, no sentido de que “me deixe trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir embora, o senhor me dispensa das minhas obrigações”, e continua enfocando os termos de seu trato dizendo que “eu não quero receber o dinheiro de meu salário mensal. Peço que o senhor o coloque na caderneta de poupança, até o dia em que eu tiver que ir embora de sua fazenda” e concluiu a formalização de seu pacto que “no dia que eu sair de sua fazenda o senhor me dará o meu dinheiro e que sigo o caminho de volta para reencontrar minha amada esposa”. Assim sendo o patrão concordou plenamente com o empregado. O que se sabe é que o jovem esposo trabalhou mais de vinte anos, nunca tirou férias e muito menos teve descansos semanais. De modo que depois de vinte anos de labuta a duras penas, procurou o patrão e disse “meu senhor, quero receber o meu dinheiro do tempo aqui trabalhado, conforme o “trato” ou “pacto” que fiz com o senhor, pois, estou voltando para minha casa para reencontrar minha querida esposa”, e o patrão lhe disse “tudo ótimo, afinal foi feito o “trato” e ou “pacto” e o mesmo vai ser cumprido integralmente, assim como você cumpriu sua palavra e trabalhou durante esse tempo todo aqui em minha fazenda, porém, antes de tudo, vou fazer-lhe uma proposta interessante, está bem? Vou dar-lhe todo o seu dinheiro com juros e correção monetária e você vai embora ou então lhe darei três conselhos e não lhe darei o seu dinheiro e você assim mesmo vai embora de bolsos vazios. Veja que se eu lhe entregar o seu dinheiro, eu não lhe darei os conselhos e se for dado os conselhos não darei o dinheiro. Não tome a decisão de escolher agora, vá para sua casa e pense bem e depois dê-me a resposta”. E o jovem esposo, agora mais de vinte anos mais velho, foi para casa, pensou... pensou... durante vários dias e procurou o patrão e deu-lhe a seguinte resposta: “não quero receber o meu dinheiro, quero os três conselhos que o senhor me prometeu dar”. E não é que o patrão entendeu que um bom cabrito não berra, então, novamente mencionou ao empregado demissionário: “ se eu lhe der os conselhos, não lhe dou o dinheiro do pagamento do tempo que você trabalhou aqui na fazenda”. E imediatamente o emprego não pensou duas vezes e disse na “bucha” que “quero os três conselhos”.

                          E assim sendo, o patrão começou a dar-lhe os seguintes conselhos:
 
1º) “nunca tome atalhos em sua vida, caminhos mais curtos e desconhecidos, pois, podem custar a sua própria vida”; 
2º) “nunca seja curioso para aquilo que é mal, tendo em vista que a curiosidade pro mal pode ser uma ação mortal”;
3º) “nunca tome decisões em momentos de ódio ou de dor, tendo em vista que você pode se arrepender e aí ser tarde demais”.
 
                          Dados os três conselhos ao empregado o patrão adiantou-lhe que ele já não era tão jovem assim como no dia em que chegou a fazenda, assim sendo, “vou dar-lhe um presente de três pequenos pães, dois para você comer durante o percurso da viagem e o terceiro pão para você comer com a sua mulher quando chegar em casa”. E o jovem esposo, agora homem de vida adulta e lapidada pelo trabalho durou que enfrentou por mais de vinte anos na fazenda, iniciou o caminho de volta para casa, esperando encontrar sua querida mulher que tanto amava e que ficou durante mais de vinte anos longe da mesma e de seu lar a procura de ganhar dinheiro para oferecer-lhe dias melhores.

                           No final do primeiro dia de viagem encontrou nas estradas no caminho de volta para casa um andarilho que se fez de seu amigo e perguntou-lhe para onde ia? E ele disse-lhe: “vou para um lugar muito longe que fica a mais de trinta dias de caminhada sem parar para descansar por esta estrada afora”. E o andarilho respondeu-lhe: “homem, esta estrada é muito longa, eu conheço um atalho que “é dez” e o amigo chega em poucas horas de viagem”. O atalho era parecido por analogia com o tapete mágico de Aladdin, enfocado no filme americano produzido pela Walt Disney Feature Animation, de igual nome do ano de 1992, onde [...]Aladdin usa o tapete mágico para retornar a Agrabah, onde Jafar tornou Jasmine e o sultão seus escravos. Jasmine tenta distrair Jafar seduzindo-o, enquanto Aladdin tenta recuperar a lâmpada, mas Jafar apercebe-se. E o homem ficou contente com a orientação ou conselho do andarilho e começou a seguir o referido atalho, já ia longe no novo caminho, quando lembrou-se do primeiro conselho do fazendeiro, ato continuo, voltou a estaca zero e segui o caminho normal e natural que levava para sua casa onde ia encontrar sua querida mulher. Fale salientar de que o homem dias depois tomou conhecimento de que o atalho do caminho curso do andarilho levava-o para uma grande emboscada, bem parecida com o “cheiro do queijo” da atualidade onde milhares de jovens de todas as etnias, crenças e classes sociais são levados e assassinados todos os dias nas bocas de fumos, sic, da vida moderna. E a viagem continuou no caminho normal e depois de longos dias de viagem, muito cansado, encontrou uma casa de pensão na beira da estrada, onde pagou a diária, tomou banho e foi dormir. De madrugada acordou-se assustado com gritos estarrecedores, deu um salto da cama e levantou-se e foi em direção da porta de onde vinham os gritos. Pensou em abrir a porta do quatro, foi quando lembrou-se justamente do segundo conselho que o fazendo tinha lhe dado em troca do pagamento dos seus vintes e tantos anos de trabalho na fazenda. Em seguida voltou para a cama, deitou-se e dormiu outra vez. Deixou pra lá o que estava acontecendo fora de seu quarto de pensão onde estava hospedado. Amanheceu o dia, tomou banho, após o café matutino, o proprietário da pensão perguntou-lhe se ele não tinha ouvido uns gritos de madrugada e o homem respondeu que realmente tinha ouvido. E o dono da pensão lhe perguntou se ele não tinha ficado curioso para ver quem era? E o homem disse que não. E foi aí que o dono da pensão respondeu que “você o primeiro hóspede a sai vivo daqui, pois, o meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite toda e quando o hospede sai, mata-o e enterra-o no quintal”.
 

                             E o homem continuou sua viagem de volta para sua mulher e sua casa. Estava sempre ansioso, afinal de contas eram mais de vinte anos de ausência em casa. Andou vários dias e noites sem parar, caminhada longa. E o dia já ia entardecendo, avistou no meio das árvores a fumaça da lenha que queimava no fogão de sua casa, ficou curioso, andou e presenciou entre o arvoredo a figura feminina de sua mulher. Era quase noite, porém ele pode comprovar de que ela não estava só, tinha alguém do sexo masculino com ela. Se aproximando mais um pouco da casa e viu que sua mulher tinha entre as pernas um homem a quem ela estava acariciando seus cabelos. Ficou louco ao avistar aquela sena, pois, seu coração ficou cheio de ódio, de ilusão e de amargura e pensou em ir de encontro aos dois e matá-los sem piedade, porque se sentia traído pela mulher que escolheu para ser sua esposa. Ficou atônito, com a respiração cortando, estava a ponto de iniciar uma guerra de nervos quando lembrou-se do terceiro conselho do fazendeiro. Foi aí que procurou refletir e decidir dormir no mato naquela noite nas imediações de sua casa, quase no terreiro de casa e no dia seguinte procurar sua mulher e tomar uma decisão de homem vivido e comprometido com seu futuro. E foi justamente o que fez, ao amanhecer, estava com a cabeça fria da desilusão vivenciada do dia anterior. Decidiu que não iria matar a mulher e muito menos seu amante. Resolveu voltar para trabalhar na fazenda do seu antigo patrão, porém, antes de voltar, resolveu enfrentar o caso e dizer a sua mulher que sempre lhe foi fiel. Chegou à porta da casa, bateu palmas, alguém responde, é sua mulher, ela o reconhece ao abrir a porta, se atira no seu pescoço, chora e o abraça carinhosamente. O homem não aceita o abraço da esposa e tenta afastá-la de si, porém, não consegue empurra-la. É aí onde o homem com lágrimas nos olhos balbucia: “eu fui fiel a você e você me traiu...” e ela ficou muito espantada com tal afirmação do homem e respondeu-lhe; “aquele homem é nosso filho, quando você foi embora descobri que estava grávida, ele hoje está com vinte anos de idade”. O homem entrou em sua casa, beijou sua mulher, abraçou o seu filho, narrou toda a sua história de trabalho por mais de vinte anos fora de casa e a mulher foi preparar o café para o esposo. O café ficou pronto, pai, mãe e filho, sentaram-se a mesa para tomar o café e comer o último pão que recebeu a titulo de pagamento pelo trabalho dos vinte anos na fazenda. Agradeceram a Deus através da oração do “Pai Nosso” e de uma “Ave Maria”, com lágrimas e emoção, o homem parte o pão e ao abri-lo, encontra justamente todo o seu dinheiro, o pagamento dos seus vinte anos de dedicação aquele fazendeiro.

                            É verdade de que “muitas vezes achamos que o atalho” chamado de “queima etapas” e nos faz na realidade chegar mais rápido, o que nem sempre é verdade... em nossas vidas. É evidente que “muitas vezes somos” todos curiosos, sempre queremos saber de coisas que nem ao menos nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará... em nossas vidas. Porém, “outras vezes, sempre agimos por impulsos, na hora da raiva, fatalmente nos arrependemos depois...” às vezes já é muito tarde.

                      Em síntese, os três conselhos são muito importantes desde que você também nunca se esqueça que confiar é preciso em sentido amplo de nossas vidas, “mesmo que a vida muitas vezes já tenha dado motivos para a desconfiança”. E esta estória entra pelo pé do pinto e cada um que lê-la escreva cinco.

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