segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Maledicência do homem (*)

 Um dia, na praia, a esperar a aurora, procurei refletir um pouco sobre a vida. Como diz um amigo meu do Rio de Janeiro, “o Ministério da Saúde adverte: Eduardo pensando faz mal à saúde!”

Pois bem! Mesmo contrariando tão sábio conselho, resolvi refletir sobre a vida e aprender com essas divagações que são, às vezes, infrutíferas, mas, em outros momentos, mostram-se necessárias, para me fazer crescer.

Sempre achei que o único pecado a se cometer, nesta vida, é a falta de amor. Revirando a vida pessoal, pelos corredores do passado, pude refletir sobre quanto a maledicência, que é uma das hipóteses de falta de amor, causa danos ao ser humano. Trata-se da vontade incontrolável de destruir a vida alheia, através de uma arma ferina e eficaz: a língua.

A fórmula para tal anojoso desiderato é simples. Basta que alguém demonstre algo que contrarie as aspirações alheias, ou granjeie conquistas almejadas por outro, para que se destile toda a maldade contida no mais profundo lado negro do homem, por meio da infâmia, da mentira, da injúria e de toda sorte de artifícios.

Daí, com a semente malévola plantada, legiões de frustrados, mentirosos, mesquinhos, desocupados, materialistas e derrotados, com disciplina beneditina, encarregam-se de regar a abjeta planta da destruição, tornando-a uma imensa árvore, ramificada difusamente por todos os setores da sociedade. Pronto! Missão cumprida...

A maledicência é normalmente acompanhada de falsidade, aliás, uma característica brasileira. Tapinhas nas costas, sorriso nos lábios e calorosos abraços são os meios que asseveram a absoluta falta de caráter do maldizente que perde sua própria personalidade, já tão obtusa, para viver o personagem por si criado, para desfazer as obras alheias.

É primado da Física, constante na Terceira Lei de Newton, que, para toda ação, há reação em proporções iguais, mas em sentido oposto. Então, tal qual um escorpião açoitado que se pica ante o iminente perigo, o maldizente abandona sua própria vida, para percorrer os sulcos da vida alheia. Assim procedendo, deixa de edificar-se e, no estágio avançado, de existir, tornando-se esquecido ou oculto. No dia da sua morte, ao mirar o seu passado, encontrará um deserto árido, carente de arbustos, frutos e flores.

Não raro, não sei se por obra divina ou pela própria natureza, muitas das injúrias destiladas aos outros se voltam, como fato verídico, sobre os ombros dos entes queridos daqueles malfeitores, para que sintam, in corpus, o dissabor de mal julgar a vida alheia.

Logo, surgiu o Sol – lembram que eu estava na praia? –, apoteótico e lindo, provando que tudo isso é secundário, diante da grandeza de estar vivo e do mister, que todos nós temos, de amar aqueles que nos cercam e de fazer deste mundo um lugar ainda melhor.

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