O calendário deste final de outubro e começo de novembro é curioso. Assim como no dicionário, “morte” vem antes de “vida” e “descanso” vem antes de “trabalho”, a sequência que deu origem a este feriadão também traz uma inversão intrigante: o dia de Todos os Santos vem antes do dia de Finados. Condição sine qua non para ser santo é ter falecido. Em vida ninguém é santo, embora em época de campanha eleitoral alguns pretendam se passar por santinhos, ao menos no material de propaganda para nos fazer crer em tal epíteto beatífico – só para dar um ar de erudição a esta crônica despretensiosa. E teve o final do segundo turno também.
Entre mortos e feridos, todos se salvaram, e temos a primeira mulher presidente da República. Para 56% dos eleitores é dia de festa. Se bem que, neste dia dos finados temos de acrescentar alguns itens nos possíveis epitáfios: requiesce in pace vazamentos, dossiês, erenices, paulos pretos, bolinhas de papel e fitas crepe, aborto, homofobia, panfletos apócrifos e golpes abaixo da cintura. Isso como tema de campanha, porque como debates para o período que se abre para além do dia 2, com o fito de limparmos a pauta para o avanço desse ciclo de desenvolvimento, não podemos deixar morrer-lhes a importância, desprovida do embate político eleitoral.
Agora, os que preferiram passar esses dias em branco e se deram conta neste último dia do feriadão que muita coisa aconteceu, há outras oportunidades com que se preocupar no calendário dos próximos dias, como o Dia da Bandeira. Isso, ainda antes que baixe o espírito natalino, para quem acredita em Papai Noel.
Professor e escritor
Orlando Fonseca
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