segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Uma segunda-feira diferente

Por mais que pareça um dia como tantos outros em São Paulo, com neblina, gente saindo para trabalhar e trânsito (mesmo sendo emenda de feriado), hoje é um dia diferente.

Por mais que as pesquisas previssem o resultado da eleição, o "fato consumado"é sempre diferente das previsões-é algo que já é verdade hoje.

Assim, o dia de hoje é um dia diferente: configurou-se uma realidade que seria impensável para nosso país há alguns anos atrás. Uma mulher presidente, uma mulher que participou ativamente da guerrilha durante a ditadura militar. Uma mulher que expressou a maior intenção de voto justamente nas regiões mais pobres do país-ou seja, os pobres hoje não só falam e escrevem, eles elegem seu presidente! Tudo pareceria uma ficção de um romancista de esquerda alucinado, para um cidadão bem letrado dos anos setenta. E hoje é a nossa realidade.

Realidade que não está deixando ninguém indiferente: felizes, tristes, furibundos, extasiados, ressentidos, é um monte de gente falando, dos butecos do cafézinho e pão com manteiga aos comentários on line dos grandes jornais. Um turbilhão de vozes aplaudindo, reclamando, xingando, advertindo. Não dá mesmo pra ficar indiferente; essa segunda não é como as outras.

Fico feliz em ouvir e ver tanta gente falando de um acontecimento político de nível nacional. É sempre um contraste frente a apatia e proliferação de discursos repetitivos que têm estado muito mais em moda. Fico feliz ainda por aquela mentalidade alardeada na campanha pelo PSDB: "gente do bem, gente do mal; experientes, inexperientes; sóbrios, malucos; direita, esquerda" e todas estas baboseiras expressas no fossilizado "bom-mocismo" tucano não ter feito o estrago desejado. Afinal, uma coisa que a gente tem que aprender na nossa história é que o Brasil nunca foi um lugar de bons moços, desde sua fundação (que já é uma enrolação). E o(s) brasileiro(s) é muito plural, mestiço, heterogêneo, singular pra caber nessas histórinhas classificatórias tipo mocinhos e bandidos.

Espero um pouco ansioso pela continuação de todo esse "fuá"; mas isso fica para outra vez.



odysseus

Publicado no Recanto das Letras em 01/11/2010

Código do texto: T2590437

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